Pesquisa investiga as condições de trabalho e saúde mental dos profissionais da saúde indígena

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Pesquisa investiga as condições de trabalho e saúde mental dos profissionais da saúde indígena



AUTORIA
Eliane Bardanachvili

PUBLICADO abril 26, 2023
ATUALIZADO 27 fevereiro 2025

Uma nova vertente da pesquisa Condições de Trabalho dos Profissionais de Saúde no contexto da Covid-19 no Brasil está em curso, desta vez, voltada aos profissionais que atuam no cuidado à saúde indígena. A pesquisa faz parte do projeto integrado do CEE-Fiocruz Mundo do trabalho e Saúde, parceria do Centro com a Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz), e se realizará por meio de questionário on-line, que está circulando desde 19/4/2023 – quando se celebrou o Dia da(o) Indígena.

Os pesquisadores buscarão gerar dados que auxiliem as entidades profissionais na fundamentação e formulação de propostas de melhoria do Sistema Único de Saúde e no desenvolvimento de ações estratégicas e de políticas públicas, capazes de resultar em melhores condições de trabalho a esses profissionais, aí incluídos os de nível superior (médicos, enfermeiros, assistentes sociais, cirurgiões-dentistas, entre outros) e os de nível médio e técnico (dos técnicos de enfermagem aos barqueiros, que conduzem as ambulanchas). Serão avaliados aspectos como a atuação no dia a dia, o ambiente em que trabalham, o vínculo que mantêm com o Estado, a quem respondem, quem os contrata.

“Nunca tivemos uma pesquisa que tratasse disso. Vamos verificar quem são esses trabalhadores. O vínculo empregatício que mantêm é uma grande incógnita”, observa a pesquisadora Maria Helena Machado, que coordena a investigação, ao lado do pesquisador Swedenberger Barbosa, também secretário executivo do Ministério da Saúde.

A pesquisa sobre os profissionais de saúde indígena chegou a ser iniciada em 2022. No entanto, a equipe de pesquisadores enfrentou dificuldades de várias ordens para levar à frente o trabalho, desde problemas estruturais, como localização geográfica desses trabalhadores, dificuldade de acesso à internet nas aldeias, até, principalmente, os entraves encontrados dentro do próprio governo federal, na Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai). “Fomos barrados pelas estruturas de atenção à saúde indígena, dificultaram nosso trabalho em todos os sentidos. E, nos bastidores, tivemos a informação de que não se desejava aquela pesquisa”, relata Maria Helena, lembrando, ainda, dos episódios de violência vivenciados em território indígena, como o assassinato dos indigenistas Dom Phillips e Bruno Pereira, em junho daquele ano. “Entendemos que os trabalhadores da saúde indígena estavam claramente inseguros em responder o questionário”, diz. O resultado foi fazer uma “parada estratégica, em proteção aos trabalhadores”: a pesquisa foi interrompida em agosto de 2022, para ser retomada em uma possível mudança de governo – como, de fato, ocorreu.

A intenção era reiniciar o trabalho logo no início do governo Lula, mas outro entrave se observou: a tragédia sanitária dos povos yanomami e a declaração de Emergência em Saúde Pública de Importância Internacional nesse território.

“Agora, estamos retomando com mais força e contando com financiamento que nos permitirá também deslocar equipes para algumas áreas estratégicas, para fazermos registros fotográficos e entrevistas”, destaca Maria Helena. Deverão ser visitadas até dez áreas, no Amazonas, Pará, Mato Grosso, São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, sendo que nos três estados da região Sudeste estarão incluídos indígenas não aldeados, que vivem nas periferias dos centros urbanos. ‘São indígenas também e devem ter direito a seu atendimento especializado”, observa a pesquisadora.

O questionário deverá circular até por volta de outubro de 2023. Na primeira etapa da pesquisa, realizada em 2022, foram obtidas pouco menos de 2 mil respostas, em um universo de cerca de 16 mil trabalhadores da saúde indígena. “Queremos não só ampliar a quantidade de questionários respondidos, como nos assegurarmos de que conseguiremos uma amostra representativa de todas as regiões, perfis, situações, culturas, para podermos afirmar que a pesquisa representa, de fato, o universo da saúde dos trabalhadores indígenas do país”, explica Maria Helena. Para ela, o resultado da pesquisa deverá mostrar que se trata de trabalhadores “ainda mais invisíveis” do que os pesquisados em estudo anterior pela equipe.

O questionário digital é anônimo e as informações prestadas, sigilosas. A divulgação se dará de forma agregada, evitando-se qualquer identificação, conforme anuncia o termo de consentimento da pesquisa.

Uma primeira seleção de dados preliminares está prevista para divulgação em maio de 2023, em evento que buscará marcar a reaproximação entre os pesquisadores e a Sesai. “É importante que os trabalhadores saibam que a Sesai está conosco”, avalia Maria Helena. Os resultados finais deverão ser divulgados no final do ano. “Vamos produzir conhecimento específico sobre a realidade desses trabalhadores, desvendar um mundo muito invisibilizado. Que os trabalhadores da saúde indígena nos ajudem a preservar os povos originários”.

Acesse o questionário da pesquisa

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