Das ‘caixinhas’ para uma visão sistêmica: por um processo de inovação orientado às necessidades sociais

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Das ‘caixinhas’ para uma visão sistêmica: por um processo de inovação orientado às necessidades sociais



PUBLICADO setembro 22, 2025
ATUALIZADO 22 setembro 2025

Os pesquisadores Carlos Gadelha, à frente do projeto de pesquisa Desenvolvimento Sustentável, CT&I e Complexo Econômico-Industrial da Saúde (GPCEIS) do CEE-Fiocruz, Juliana Moreira e Felipe Kamia, que integram o grupo, assinam dois artigos no livro Ciência e Saúde pela Vida, comemorativo dos 125 anos da Fiocruz. Os textos, Transformações globais e seus impactos no campo da saúde no século XXI e O desenvolvimento do Complexo Econômico-Industrial da Saúde na Fiocruz, abordam temas como soberania, inovação entendida como processo social, bem como caminhos para o enfrentamento dos desafios que se impõem ao país, ao cenário global e à própria Fiocruz. Nesta entrevista ao site do CEE-Fiocruz, dois dos autores dos artigos, Gadelha e Juliana, defendem a importância de abandonarmos proposições fragmentadas, setoriais, para alcançar uma visão sistêmica, “fora das caixas”, articulando-se inovação às demandas da sociedade, às necessidades humanas. “Não posso discutir saúde coletiva sem pensar em inovação. E, por outro lado, não posso discutir estratégias de inovação em saúde sem pensar para quê, para quem e onde vai se dar essa inovação”, observa Gadelha. “É preciso que as partes se integrem a um todo, e isso requer mudar institucionalmente a organização das políticas públicas. É um salto que essa visão sistêmica requer, de modo a termos um Estado orientado ao atendimento das necessidades sociais”, analisa Juliana. Leia a entrevista a seguir.   Um dos artigos que vocês assinam no livro dos 125 anos da Fiocruz fala em um processo de destruição criadora no campo da saúde, que se dá em um cenário complexo em que doenças crônicas se somam às doenças transmissíveis, pressionando o SUS, e no qual se observa uma convergência entre doenças e seus determinantes sociais. Como se dá esse processo que, ao mesmo tempo, aponta para destruição e criação? O enfrentamento de cenários adversos se daria por meio da inovação? Carlos Gadelha – As matrizes teóricas que deram origem ao conceito do Complexo Econômico-Industrial da Saúde e que nos ajudam a pensar as transformações globais em curso se calcam em três grandes pensadores da sociedade contemporânea e do capitalismo: [Karl] Marx, [John Maynard] Keynes e [Joseph] Schumpeter. Eles dão as grandes vertentes. E, especificamente no Brasil, temos o grande Celso Furtado, no campo da teoria do desenvolvimento, e o pensamento em saúde coletiva sintetizado na pessoa do Sergio Arouca. A ideia de destruição criadora vem de Schumpeter, o maior teórico da inovação, para quem, mais importante do que pensar como o capitalismo administra suas estruturas, é pensar como as cria e as destrói. Ou seja, mais importante do que pensar uma estrutura dada, é pensar processos de transformação. A atenção básica do presente – e do futuro –, por exemplo, não é mais a mesma de vinte anos atrás; pensar inovação sem pensar o campo da saúde digital, do uso dos grandes bancos de dados, seria deixar de lado as novas estruturas que estão revolucionando as antigas. Então, pensar processo, pensar transformação é absolutamente crucial para pensar uma nova saúde coletiva e uma nova saúde pública. Nos dois artigos do livro, a gente aponta que estamos passando por uma grande transformação demográfica, pela quarta revolução tecnológica, por processos de financeirização e de expansão das grandes empresas internacionais; apontamos a questão das mudanças climáticas e uma grande transformação na geopolítica mundial – que se torna ainda mais evidente, agora, no contexto do tarifaço do [Donald] Trump, em que se vê uma ameaça geopolítica ao Brasil por parte do governo dos EUA. Apontamos a perspectiva de não se tratar a inovação como técnica, mas como processo social. Isso exige pensar transformação e prospecção, e não apenas administrar as estruturas existentes. Juliana Moreira – Para tomar a inovação como parte inerente da sociedade, é preciso ter uma visão sistêmica, que não está focada só no campo da ciência e da tecnologia, mas nas necessidades sociais, humanas, nas necessidades de transformação da base produtiva e social, elementos relevantes para pensar o desenvolvimento que queremos. E também pensar a Fiocruz, que tem em sua história essa visão sistêmica. Como escrevemos em um dos capítulos, a Fiocruz já nasce – como Instituto Soroterápico Federal, em 1900 – para auxiliar a criação de uma política de saúde pública e tem, desde sua origem, a compreensão de que necessidades sociais requerem diferenciação no sistema produtivo, naquele caso, com a criação de um instituto, para colocar a ciência a serviço da vida e as necessidades sociais como elemento crítico para o desenvolvimento do país. Gadelha – Pegando o que a Juliana traz, a Fiocruz representa um processo único de inovação no mundo. Uma mesma instituição articulando a pesquisa biomédica e a saúde coletiva, a prestação de serviços e a produção industrial. Isso é único. A Fiocruz, em sua história, sempre se mostrou importante na estratégia nacional, nos momentos em que foi inovadora e colou no processo de transformação e articulação das políticas nacionais. O SUS foi a maior inovação nas políticas públicas brasileiras e a Fiocruz estava na liderança da criação do sistema de saúde; também no entendimento da saúde como desenvolvimento, do Complexo Econômico-Industrial, a Fiocruz esteve na liderança. Hoje, pensar a saúde como fator de soberania, pensar a capacidade produtiva e de inovação regional e nacional em áreas críticas ganha relevância estratégica. A Fiocruz permeou a resposta à Covid-19, e permeia agora a capacidade de podermos nos posicionar diante da ameaça do governo Trump, fortalecendo nossa potencialidade produtiva. A academia, as instituições e a política pública têm departamentos; a sociedade tem problemas. Quando se vai tratar de problemas, é preciso um olhar sistêmico (Carlos Gadelha) Como avaliam a apropriação, pelos diversos segmentos da sociedade, do entendimento dessa visão sistêmica, da importância do Complexo Econômico-Industrial da Saúde e da necessidade de associação entre inovação, vida e bem-estar? Essa visão está clara para nós? A que devemos ficar atentos para garantir que seja incorporada e/ou se mantenha? Gadelha – Vamos pegar pelo copo cheio. Foi um marco a retomada pelo Governo Lula de uma estratégia para o Complexo da Saúde. A C&T literalmente voltou para o Ministério da Saúde, na gestão da presidente da Fiocruz e ministra Nísia Trindade Lima – e olha, mais uma vez, a Fiocruz se vinculando à política nacional e a um processo de inovação. A política para ciência e tecnologia e para o Complexo estava totalmente fragilizada, em um processo de desmonte. Hoje, o Complexo da Saúde se torna uma das seis prioridades da nova Política Industrial Brasileira, é incorporado no PAC – nunca a área tecnológica e de inovação havia sido incorporada no PAC da Saúde – com R$ 9,2 bilhões. É um movimento deste governo. E, quando se fala em Complexo da Saúde, leia-se soberania, soberania sanitária e capacidade de produção e inovação. O presidente Lula lançou no Palácio do Planalto uma estratégia para o desenvolvimento do Complexo Econômico-Industrial da Saúde. Então, do lado positivo, houve uma inflexão de reconstrução, o orçamento de C&T quintuplicou nos dois últimos anos, saindo de R$ 100 milhões para R$ 560 milhões, estabelecendo uma série de redes nacionais de pesquisa. Este foi um momento de reconstrução do Ministério da Saúde e também de reconstrução da visão da saúde como desenvolvimento. Não obstante, a gente assiste, ainda, a desafios a serem enfrentados. Juliana – É difícil alcançarmos uma visão sistêmica, porque isso requer capacidade de articulação, a que não estamos acostumados. Somos acostumados a ter tudo nas caixinhas, da organização das escolas ao mundo das políticas públicas, nos diversos órgãos e instituições. Há o departamento que cuida da compra, o que cuida da vacina, do transporte, cada um na sua caixinha, na sua especificidade. Esse é um desafio também para a organização da ciência. Requer mudanças institucionais também. A visão sistêmica não é apenas um capricho ou uma preferência teórica por uma visão x ou y, e sim necessária. Para uma vacina chegar ao braço de alguém, um sistema está sendo movimentado, mobilizado. É preciso que as partes se integrem a um todo e isso requer mudar institucionalmente a organização das políticas públicas. É um salto que essa visão sistêmica requer, de modo a termos um Estado orientado ao atendimento das necessidades sociais. Gadelha – Tem uma frase que reflete isso. A academia, as instituições e a política pública têm departamentos; a sociedade tem problemas. Quando se vai tratar de problemas, é preciso um olhar sistêmico. Não consigo tratar da Covid, se não tenho, junto, inovação tecnológica, vacina, medicamento, um sistema de saúde organizado, atenção primária, redes de informação. Os problemas, em si, são sistêmicos. Câncer, por exemplo, requer desde fumar menos e políticas voltadas a promover a saúde, até produtos biotecnológicos de última geração para tratar a doença. Se a gente se organiza por problema e por desafio, isso requer olhar sistêmico. Não é um olhar genérico, mas colado nos problemas da sociedade. E isso, como a Juliana apontou, é muito difícil, porque a sociedade pensa de forma fragmentada. O que trazemos, então, nos dois artigos que estão no livro, é também um chamamento. Não posso discutir saúde coletiva sem pensar em inovação. E, por outro lado, não posso discutir estratégias de inovação em saúde sem pensar para quê, para quem e onde vai se dar essa inovação. Veja que interessante: a gente aponta [no artigo] transformações globais, mas levando em conta o impacto na saúde. Para não termos um SUS de joelhos – como escrevemos em um artigo, eu e o ministro [José] Temporão –, é preciso uma saúde coletiva e um sistema de saúde organizados e preciso ter capacidade industrial, tecnológica, nacional e fabril dentro do Brasil. O que seria de um SUS sem vacinas? O que seria de um SUS sem medicamentos, sem inteligência artificial e sem tecnologias digitais? Por outro lado, o que seria das biotecnologias, medicamentos, vacinas sem nos perguntarmos para quê? O olhar sistêmico não permite que a gente forneça análises e proposições fragmentadas, setoriais, que não dialoguem com os problemas da vida. Cabe destacar aqui, no que diz respeito à visão sistêmica, a importância de levar em conta os determinantes sociais da saúde... Gadelha – Isso tem tudo a ver. E temos que ampliar para os determinantes sociais e econômicos da saúde. Como dizia o bom e velho Marx, não podemos compreender e propor algo no capitalismo sem entender o capital. Precisamos entender os determinantes econômicos das desigualdades, das assimetrias em saúde. Os determinantes chamam para uma visão sistêmica, e a gente propõe que esse paradigma, crescentemente, incorpore a saúde como parte de um modelo de desenvolvimento. Se estamos em um país desigual e dependente, isso se reproduz na saúde. Se temos dependência tecnológica e industrial no país, temos um déficit comercial que atingiu 22 bilhões de dólares, o segundo maior déficit do Brasil com o mundo. Se eu considerar a tecnologia digital, a maior vulnerabilidade do Brasil, em termos de capacidade industrial e tecnológica, está na saúde. Não podemos entender a saúde sem entender como a saúde se inscreve em um país desigual e dependente. Estamos, então, tratando do Complexo Econômico-Industrial como forma de superar a dependência em saúde. Como escrevemos no artigo sobre as Transformações Globais, estamos inseridos em uma geopolítica global de tal modo que, se não tivermos autonomia produtiva, tecnológica e de conhecimento, não conseguiremos ter autonomia na própria política de saúde. Juliana – A saúde tem centralidade em todo o padrão global de desenvolvimento, seja do ponto de vista do desenvolvimento científico e tecnológico, seja também das grandes desigualdades, assimetrias e desafios que esse padrão traz, em termos de acesso. Somos um país que tem inscrita em sua Constituição a saúde como direito de todos e dever do Estado. Chamamos atenção, então, para o quanto as transformações que analisamos precisam ser compreendidas e apropriadas pelo campo da saúde pública, para que o SUS não fique a reboque e a saúde seja um espaço, não de segmentação, mas para pensarmos qual é a base social, produtiva e tecnológica que garanta ao Brasil caminhar para se tornar uma sociedade desenvolvida, com acesso à saúde plenamente garantido – e apontando o papel da Fiocruz nesse processo. E quais os desafios a serem enfrentados, ao lado do ‘copo cheio’, a que se referiram? Gadelha – Falamos da saúde como parte de um sistema assimétrico e desigual, mas chamo atenção para o entendimento da saúde como parte essencial da solução. Hoje, no Brasil, 1% da população detém 60% da riqueza brasileira – veja o grau de desigualdade aí –, enquanto no mundo o 1% detém 50% da riqueza. A desigualdade no Brasil é maior que a do mundo. Se formos olhar os indicadores ambientais, o desmatamento, a perda da biodiversidade, o cenário também é gravíssimo. E estamos em risco na questão ambiental, tendo em vista a recente aprovação no Congresso do PL da Devastação (PL 2.159/2021, aprovado em 17/7/2025). Essa visão cola a saúde no modelo nacional e global de desenvolvimento. Ou seja, na saúde, sofremos das mesmas mazelas a que assistimos no modelo de desenvolvimento mundial e nacional. Por outro lado, a saúde, por ser, inerentemente, uma área de inovação, de direito social, que dialoga com o meio ambiente e tem que liderar a transformação no modelo de desenvolvimento. Temos uma rede de pesquisa, com mais de cinquenta pesquisadores, e estamos trabalhando com duas grandes questões: uma sobre a forma como se cola a política de inovação com a política de inclusão e equidade social: qual é a inovação que leva a maior equidade? Politizamos a própria ideia de inovação. E, em uma segunda vertente, já em um processo avançado, em parceria com o Instituto de Economia da Unicamp, analisamos como a produção e inovação na saúde – hospital, produção farmacêutica, produção de vacina – são exemplos de um padrão tecnológico sustentável. Estamos dizendo: não somos só vítimas do padrão de desenvolvimento, somos parte do padrão de desenvolvimento e, portanto, temos que assumir uma responsabilidade no campo econômico da saúde, na construção de um modelo que articule desenvolvimento econômico, desenvolvimento social e sustentabilidade ambiental. Isso se refere ao próprio conceito de Complexo Econômico-Industrial da Saúde, não é? O Complexo da Saúde, que mobiliza 10% do PIB e que representa um terço do esforço em ciência e tecnologia no Brasil, assume papel de liderança em um modelo de desenvolvimento pautado pela equidade social e pela sustentabilidade ambiental. A maior chance que o Brasil tem para isso está no campo da saúde, porque nós temos o SUS. Colocar a economia da saúde a serviço do SUS e a economia a serviço da vida é a visão que está por trás dos dois artigos e da própria visão do Complexo Econômico-Industrial da Saúde. Trata-se de ideias em disputa ainda? Observam barreiras a serem transpostas? Gadelha – Keynes dizia: “A verdadeira dificuldade não está em aceitar ideias novas, mas em escapar das antigas". Como podemos lidar com o novo? E aí há dois grandes desafios simétricos, um para a área da saúde coletiva e outro para a área econômica. O desafio para a saúde coletiva é colocar a agenda da inovação e do desenvolvimento tecnológico e produtivo como questão central e decisiva – a produção local, a autonomia, a soberania, a produção regional, a articulação com o setor produtivo. Não podemos lidar com o contexto atual sem tratarmos da agenda de inovação. Ciência e tecnologia não podem ser vistas como acessórios do SUS. Não há SUS que não seja calcado fortemente na ciência, na tecnologia, tanto do ponto de vista das tecnologias sociais, como nas inovações relacionadas a produtos, saúde digital, medicamentos, vacinas, organização do padrão tecnológico de serviços. Então, o grande desafio para a saúde coletiva é dar um salto paradigmático para incorporar com centralidade o campo da ciência, tecnologia e inovação. Alcançar uma visão sistêmica requer capacidade de articulação, a que não estamos acostumados. Somos acostumados a ter tudo nas 'caixinhas', da organização das escolas ao mundo das políticas públicas, nos diversos órgãos e instituições (Juliana Moreira) E do ponto de vista da área econômica, qual seria o desafio? Gadelha – O desafio para a área econômica e para a área de inovação é, como já apontamos, que não dá mais para falar em desenvolvimento econômico e inovação sem pensar nas finalidades. Não posso pensar inovação ou desenvolvimento produtivo em saúde, sem pensar em SUS. Não há dois ministérios, o do Complexo e o da Saúde. É um ministério único. Esses braços têm que estar integrados. Isso talvez tenha sido uma das maiores contribuições da ministra Nísia Trindade, fazer essa integração, do braço da ciência, tecnologia e inovação com o braço da organização do sistema de saúde e do serviço de saúde no âmbito do SUS. São desafios simétricos. Esse jogo não está ganho. Existem barreiras cognitivas no campo da saúde e no campo econômico, em assumir que são agendas gêmeas e não agendas independentes. Estamos falando de uma visão arraigada, dos grilhões do passado que nos amarram para avançar para o futuro. Juliana – É superar a visão reducionista, segmentada, em caixinhas. Gadelha – Como costumamos dizer: é para fora das caixas e para dentro da sociedade. E a sociedade quer atenção primária, quer telemedicina, medicamentos, vacinas. É preciso fugir de falsos binarismos, como diz o professor [Luiz Gonzaga] Beluzzo, que opõem a inovação e a saúde coletiva, que opõem economia e sociedade. Juliana – Assim é que vamos inverter a visão de saúde como gasto para saúde como investimento. E não mais darmos apenas o mínimo para o social. Vivemos em um mundo no qual os interesses do capital são os que predominam. Se a área da saúde coletiva não se apropriar das grandes transformações e conseguir conduzi-las para o interesse público, o caminho é o descolamento. Gadelha – [Thomas] Pickety falava: se nós não cuidarmos da agenda econômica, eles vão cuidar. Se não cuidarmos da inovação como parte da política social, a pesquisa e as estratégias de inovação, ainda que relacionadas à saúde, serão descoladas do SUS. Ou nós, da saúde coletiva, incorporamos esse campo, ou este seguirá uma dinâmica própria, independente do SUS e do desenvolvimento social. O que está em jogo é muito. E aí temos que tratar de agendas difíceis para a saúde coletiva, como a relação público-privado, o estímulo à inovação, a questão do fortalecimento da capacidade produtiva nacional endógena, a relação entre instituições públicas e o setor privado, de modo que o interesse privado seja subordinado ao interesse público. Se não houver relação e articulação entre o público e o privado, o privado vai sozinho. Juliana – A Fiocruz é um grande exemplo das possibilidades de essa relação acontecer. Basta olharmos para as vacinas. Gadelha – Toda a produção de vacinas da Fiocruz se deu em parceria com o setor privado. Em relação à vacina contra a Covid-19, a Fiocruz fez parceria com a Astrazeneca, ofereceu para a população a vacina mais barata do mundo e teve uma articulação virtuosa com o setor privado. Se não houvesse essa articulação, nós compraríamos vacina, quando tivesse vacina, e ao preço que nos fosse ofertado. É um grande exemplo. A Fiocruz é, em ato, o exemplo mais destacado dessa visão que articula o campo social com o campo econômico e o campo ambiental. E aí os dois capítulos tratam ao mesmo tempo da Fiocruz e da corporificação de uma visão que vem desde Oswaldo Cruz, que não segmenta o mundo entre o mundo da tecnologia e da ciência e o mundo dos direitos sociais. A história da Fiocruz integra esses dois mundos. Nos dois capítulos para o livro dos 125 anos, procuramos mostrar que a história da Fiocruz está sendo recontada e reforçada com essa visão que trazemos de integração entre o mundo da inovação e o mundo social. A Fiocruz é uma síntese dessa visão.

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