André Costa (Agência Fiocruz de Notícias/AFN)
Os desafios dos setores progressistas da sociedade brasileira frente a um projeto de governo que chegou ao limite e de uma frente conservadora que não se limitará às regras democráticas para chegar ao poder: foram essas algumas das discussões do segundo dia do seminário Futuros do Brasil: Crise atual e alternativas de longo prazo, que aconteceu na terça-feira (12/4) no Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB-RJ), no Flamengo. Em seu segundo e último dia, o encontro, que é organizado pelo Centro de Estudos Estratégicos (CEE) da Fiocruz, reuniu sociólogos, cientistas políticos e ativistas para discutir o que levou ao atual cenário e quais novos caminhos podem ser tomados a partir daqui.
Primeira a falar na mesa intitulada A política e o os movimentos da sociedade, a socióloga Angela Alonso, da Universidade de São Paulo (USP), falou sobre os novos ciclos de mobilização popular, que acontecem no país desde 2013. Alonso observou que, desde a redemocratização, o país acostumou-se a pensar que manifestações de rua são atividade da esquerda, e que as jornadas de junho romperam com isso, ao configurarem dois grandes campos: um formado por uma nova esquerda, autonomista e antipartidária, e uma nova direita, abrigada sob a bandeira do nacionalismo e do antipetismo. A socióloga observou que os dois grupos guardam semelhanças (apartidarismo, horizontalidade, recurso à violência) e diferenças (um grupo está à esquerda do PT, outro à direita). “Essas mobilizações acabam com a ideia disseminada no Brasil de que essa sociedade é passiva e não se manifesta. O fato de a mobilização já durar três anos mostra a vitalidade da democracia”, afirmou.
“Essas mobilizações acabam com a ideia disseminada no Brasil de que essa sociedade é passiva e não se manifesta. O fato de a mobilização já durar três anos mostra a vitalidade da democracia. (Angela Alonso)
Representante do Fórum Social de Manguinhos, Fransergio Goulart começou sua participação questionando palavras de ordem atuais da esquerda, com uma citação do “filósofo favelado” Angu, do Instituto Raízes em Movimento: “Não vai ter golpe, ou a cada dia um novo golpe? Precisamos manter o Estado de Direito, ou começar a tê-lo? Não queremos a volta da ditadura, ou o seu fim?”. Cético em relação a movimentos políticos partidários, incluindo os que defendem o governo Dilma, Goulart compartilhou sua experiência como ativista na Favela de Manguinhos, afirmando que a comunidade é desassistida tanto pelo Estado quanto por movimentos políticos tradicionais. Segundo ele, apenas uma auto-organização comunitária pode mudar esta realidade. “Qual a luta dos movimentos da favela? Contra o capital? Esta é muito distante. A nossa pauta, em resumo, é uma luta contra a hegemonia ocidental, branca e rica. A esquerda não pode pensar que só existe o pensamento ocidental. Também existem outras teorias do mundo e outras conceituações”, sintetizou.
A nossa pauta, em resumo, é uma luta contra a hegemonia ocidental, branca e rica ( Fransergio Goulart)